quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Delação fiscal premiada"

Os Estados de São Paulo, Mato Grosso e Espírito Santo podem instituir a delação premiada para casos deonegação fiscal. Três projetos de lei idênticos que tramitam nas Assembleias Legislativas desses Estadosdeterminam o pagamento de um prêmio em dinheiro ou isenção de impostos para aqueles que denunciarem empresas suspeitas de cometerem crimes contra a ordem tributária. Pelas propostas, o valor daemuneração seria de 1.000 unidades padrões fiscais (UPFs), o que em SP e ES representa cerca de R$ 17,5 mil. No MT, R$ 36 mil. O delator forneceria as informações sigilosamente para um disque-denúncia, a ser disponibilizado pelas Secretarias Estaduais da Fazenda.
Em São Paulo, o projeto já tem parecer favorável do relator na Comissão de Constituição, Justiça eedação (CCJR) da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), deputado André Soares (DEM). A votaçãoa proposta pode ocorrer na sessão de amanhã. A Procuradoria-Geral do Espírito Santosaprovou aoposta, seguindo uma norma do regimento interno. Agora, o texto passa a tramitar no legislativo capixaba. No Mato Grosso, a proposta ainda seanalisada pela Comissão de Fiscalização e Acompanhamento daExecução Oamentária. R d pr
Pelas propostas, as despesas com as recompensas seriam custeadas com o dinheiro arrecadado a partir daexecução fiscal originada pela denúncia. "O valor só seria repassado ao denunciante quando o Estadoeceber o imposto devido", diz o autor do projeto de lei em São Paulo, deputado Cauê Macris (PSDB). Eleafirma que apresentará, nesta semana, uma proposta de emenda para deixar a condição clara no texto eara propor uma mudaa quanto ao valor do prêmio: ao invés de 1.000 UPFs, 25% do valor da dívidadescoberta pela denúncia. "No momento de apresentar a proposiçãoo me atentei que poderiam existir débitos inferiores ao valor da recompensa previamente estabelecido", diz Macris. r p
Segundo os autores dos projetos, que apresentaram justificativas iguais nas proposições, a medida é umentivo para o cidao ajudar os órgãos fiscalizadores na apuração de crimes tributários, além deontribuir para a "valorização dos bons contribuintes em detrimento dos aproveitadores". Para o deputadoarcelo Santos (PMDB), autor da proposta no Espírito Santo, atualmente há incentivo ao ato ilícito a partir da disseminação de uma "cultura da sonegação". "Há a ideia de que pagando os impostos em dia oempresárioo consegue o lucro necessário para manter seu estabelecimento. Isso é uma inverdade", diz. inc c M
Para os deputados, a delação premiada ainda poderia ajudar a reduzir a taxa de sonegação de impostos nosEstados. De acordo com o último estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) sobre aonegação fiscal nas empresas brasileiras, R$ 200 bilhões deixaram de ser recolhidos, em 2008, principalmente em contribuições previdenciárias, ICMS e Imposto de Renda (IR). Segundo o IBPT, aa lidera a lista do setor devedor de impostos. s indústri
Na opinião de advogados, no entanto, a gratificação aos denunciantes não teria efeitos na arrecadação ou melhorias na educação fiscal dos contribuintes. Para Rodrigo Rigo Pinheiro, do Braga & MorenoAdvogados & Consultores, a proposta geraria uma "guerra" para a obtenção de isenções tributárias. "Aempresa denunciante também pode ser devedora. Seria um verdadeiro canibalismo", diz.
Para o tributarista Jorge Henrique Zaninetti, do Siqueira Castro Advogados, o crescimento do número dedenúncias não implicaaumento da fiscalização, já que a estrutura de agentes fiscais permanecea mesma. "Haverá perda de foco da fiscalização. Por mais que temam a concorrência desleal, as empresas nãooaderir porque o mundo corporativo sabe que denúncias sem provas podem gerar ações judiciais", diz.
Algumas Secretarias de Fazenda e a Receita Federal possuem canais abertos para receber denúncias sem, entretanto, conceder incentivos. A ouvidoria da Receita Federal em São Paulo (8ª região fiscal) contabilizou, até 31 de outubro, 829 denúncias de irregularidades. A Secretaria da Fazenda do Espírito Santo recebeu, neste ano, cerca de 290. Os órgãos, porém, não souberam informar quantas denúncias geraram fiscalizações.
Fonte: Jornal Valor Econômico, por Bárbara Pombo (SP)

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